sexta-feira, 12 de junho de 2015

ANÍSIO TEIXEIRA – JURISTA POR FORMAÇÃO, EDUCADOR POR VOCAÇÃO

ANÍSIO TEIXEIRA – JURISTA POR FORMAÇÃO, EDUCADOR POR VOCAÇÃO

ALESSANDRA SILVEIRA, CARMEN DALYANN, CLÁUDIO EDUARDO, JANAÍNA PETRÓVNA, KAREN MICHELLE, MARIA CATIANY, FERNANDA KAROLINE

Na transição do século, num momento de efervescência da República, nasce em Caiteté, distante 800km de Salvador, Anísio Spínola Teixeira, filho do Dr. Deocleciano Pires Teixeira, que além de médico era grande proprietário de terras e de D. Anna Spínola Teixeira, uma senhora de abastada família da região.
Anísio foi educado numa escola jesuítica, e se não fosse os apelos do pai para que seguisse a carreira política ele teria entrado para a Cia de Jesus ao concluir os estudos. Ao invés disso foi para capital, estudar Direito. Em 1924, já formado e morando em Caiteté, quando pleiteou cargo de promotor, foi convidado por Góis Calmon, governador progressista que compôs seu secretariado com jovens idealistas, para assumir o cargo de Inspetor Geral de Ensino. Mesmo julgando-se inapto para a função, assume o cargo onde permanece até 1929.
Em 1925, viaja a Europa para conhecer as práticas pedagógicas vigentes. Vai a Espanha, ao Santuário Santo Inácio de Loyola, parte para Roma, sendo hospedado no Colégio Pio Latino Americano. Segue para Paris, frequenta “Sorborne” e estuda o sistema escolar francês.
Os anos 1926 e 1927, foram na Bahia, aprofundando estudos e entendendo a problemática da educação brasileira.
De tanto pesquisar e buscar informações sobre reformas educacionais, decide ir a América. Passou 4 meses por lá. Foi o primeiro estudante brasileiro a matricular-se no Teachers College em Nova York para estudos da educação. Nesse período, teve aulas com John Dewey, que o influenciou por toda a vida. Além deste, Kilpatrick, Monroe, Thorndike, Kandel, Counts, grandes nomes da pedagogia mundial também foram seus professores.
Lá fez também duas grandes amizades: Monteiro Lobato e Sebastião Sampaio. Nas reuniões de brasileiros, destacava-se pela sagacidade e pela capacidade de reproduzir fidedignamente as idéias, em detalhes. Seus mentores o conduziram para estudos relativos à filosofia da Educação e administração.
O EUA, viviam um momento pós-guerra e se consolidavam como grande potência. Os recursos educacionais muito impressionaram o jovem Anísio.
A viagem o transformara completamente. Até a sua fé volta abalada, saiu do Brasil, crente e voltou agnóstico. Mas como fé não é uma questão de decisão, viveu esse conflito interior durante muitos anos. Estava convencido pela racionalidade, mas conserva-se um idealista.
Em 1929, volta ao Brasil. Sua formação até então tinha sido apenas humanista, os EUA ofereceram o primeiro contato com a visão científica do mundo e com métodos experimentais.
Anísio, apresenta o primeiro documento “Sugestões para Reorganização Progressiva do Sistema Educacional Baiano” e o governador Vital Henrique o rejeita como inexequível. Isso o força a ser exonerado do cargo.
Exonerado, vai dar aulas de filosofia e história da educação, na escola normal de Salvador. Socialmente, sua companhia, continua muito apreciada em rodas de amigos. Astuto, inteligente, com fino humor e moderador, sempre direcionava e enriquecia os debates. Franzino de corpo, mas um “vulcão de idéias” como os amigos o chamavam.
No Brasil, em março de 1930, foram realizadas as eleições para presidente da República, eleição esta, que deu a vitória ao candidato governista, o então presidente do estado de São Paulo Júlio Prestes. No entanto, Prestes não tomou posse, em razão do golpe de estado e foi exilado.
Getúlio Vargas então, assume a chefia do "Governo Provisório" em 3 de novembro de 1930, data que marca o fim da República Velha e da início as primeiras formas de legislação social e de estímulo ao desenvolvimento industrial.
Apesar do Dr. Deocleciano ter ligações com o regime deposto, Anísio não tem compromissos ou alianças partidárias. O recém criado Ministério de Estado dos Negócios de Educação e Saúde Pública fica a cargo de Francisco Campos que acreditava que a reforma não poderia advir apenas de idealistas ligados à revolução e sim de pessoas de notável competência e espírito público. Anísio assume a direção do ensino secundário.
Poucos meses depois, é intitulado Diretor Geral de Instrução Pública do Distrito Federal. O golpe de Estado em 1937 afasta Anísio da vida pública.
O educador baiano vive nesse momento, às custas de suas traduções, porém essa atividade era perseguida pelo Estado Novo. Sendo assim, casa-se, deixa o lado intelectual de lado e parte para a vida prática tendo muito sucesso como comerciante, industrial, minerador e exportador.
Pós segunda Guerra Mundial, organizam-se as Nações Unidas. O filósofo francês Julian Huxley, co-autor de Ciência da Vida, obra traduzida por Anísio, convida-o para Conselheiro para Educação Superior da UNESCO.
Anísio idealiza a existência de um mundo só, onde a UNESCO seria o Ministério da Inteligência que promoveria o entendimento entre os povos, o livre comércio de informações e conhecimento, a tão sonhada paz.
Um grande dilema; continuar como minerador numa oportunidade nova com a exploração de manganês no Amapá ou reassumir uma função pública provoca grandes reflexões. A educação ganha novamente um fiel servidor. Confiando em Otávio Mangabeira passa quatro anos, logo após assume a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A essa altura Anísio Teixeira é conhecido nacional e internacionalmente. Assume vários cargos públicos na área de educação. Em 1964, aposenta-se da vida pública. Em meados de 71, por insistência dos amigos, candidata-se a Academia Brasileira de Letras.
Segundo Aurélio Buarque de Holanda, bastava um voto para que ele ocupasse a cadeira 36 da ABL. No dia 11 de março de 1971, vai visitar o amigo para discutir os detalhes de sua candidatura e não mais apareceu. O corpo de Anísio foi encontrado, três dias depois no poço do elevador. Anísio não chegou a ocupar a cadeira da ABL, mas definitivamente garantiu seu lugar entre os imortais. Sempre que se falar em educação no Brasil, Anísio Spínola Teixeira será lembrado.
LEGADO
“Educação não é privilégio”, o título e uma de suas obras resume o seu ideal de educação PÚBLICA, LAICA E OBRIGATÓRIA.
A reforma educacional que Anísio projetou desde os anos 20 é ampla. Perpassa pela democratização do ensino, pela qualidade, pela experiência do aluno como base para o aprendizado, pela formação de professores, pela formação continuada, pela inclusão, pela garantia de fundos que promovam a educação. "Estamos passando de uma civilização baseada em uma autoridade externa para uma baseada na autoridade interna de cada um de nós", diz ele em seu livro Pequena Introdução à Filosofia da Educação.
Anísio era um homem de pensamento e ação. Inaugurou a Escola Parque em 1950 e até hoje é referência como escola modelo e inspirou, posteriormente os CIEPS.
Foi convidado para ser um dos doze cérebros mundiais a conceber a Enciclopédia Mundial. Através do INEP distribuiu milhares de publicações e equipou as bibliotecas das escolas.
“biblioteca é cultura, cultura é consciência, consciência é voto acertado, é um grande passo a frente. Um povo informado (para não dizer um povo instruído, que é o alvo a atingir) sabe distinguir, sabe duvidar, sabe o que quer e como quer” (Anísio Teixeira)
Pessoas próximas, descrevem que sempre foi discreto, nunca quis glórias, afirmava que o que fazia era decorrência natural de estar vivo, não motivo para nenhum júbilo pessoal.
"Só existirá uma democracia no Brasil no dia em que se montar a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública. Mas não a escola pública sem prédios, sem asseio, sem higiene e sem mestres devidamente preparados, e, por conseguinte, sem eficiência e sem resultados. E sim a escola pública rica e eficiente, destinada a preparar o brasileiro para vencer e servir com eficiência dentro do país".(Anísio Teixeira)
 “Senão, vejamos: os filhos dos ricos têm um turno na escola e, noutro turno, dispõem de banca e aulas de dança, línguas e esportes, além de livros, revistas e vídeos; os filhos dos trabalhadores contam apenas com minguadas três horas e meia de aula e no outro turno, como observava Anísio, "desaprendem o que aprenderam no turno anterior" - porque ficam soltos nas ruas.(Anísio Teixeira)
E imaginar que já se passou mais de um século...
             
Referências
Geribello, Wanda Pompeu. Anísio Teixeira – Análise e Sistematização de sua obra. São Paulo: Atlas, 1977
Rosa, Maria da Glória. A História da Educação Através dos Textos. São Paulo: Cultrix, 2011

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